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(Fuvest) IRACEMA, de José de Alencar


(Iracema, 1881, pintura por José Maria de Medeiros)



O autor

José Martiniano de Alencar, ou conhecido apenas por José de Alencar, nasceu no dia 1 de maio de 1829, em Messejana, no Ceará. Filho ilegítimo de seu pai, padre e senador, e de sua prima, mudou-se para o Rio de Janeiro aos onze anos, e mais tarde entrou na Faculdade de Direito. Formado, iniciou os escritos literários no Correio Mercantil, famoso folhetim da época. Casou-se, então, com Georgiana Augusta Cochrane, sendo pai do embaixador Augusto Cochrane de Alencar.

Em 1856, publicou os primeiros romances, Cinco Minutos, e a Viuvinha em 1857. Alcançou notoriedade apenas com O Guarani, sua obra máxima, publicada no mesmo ano. A este seguiu-se Iracema (1865) e Ubirajara (1874) que, portanto, conceberam a trilogia indianista junto de O Guarani.

Tornou-se político, trabalhando na Secretaria do Ministério da Justiça, depois como deputado estadual no Ceará, até que viajou para a Europa, procurando tratamento médico. Mas, porventura, faleceu no Rio, devido à tuberculose, em 1877.

Outras obras:

Lucíola (1862)

O gaúcho (1870)

Til (1871)

Guerra dos Mascates (1871-1873),

Ubirajara,

O sertanejo (1875),

Senhora (1875).


Iracema: Lenda do Ceará

Iracema foi publicado por volta de 1865, pelo autor José de Alencar.

É considerada por muitos críticos como uma analogia à colonização brasileira do século XVII, e continua emocionando gerações com seu tom épico e poético, e a trágica história de amor entre Iracema e Martim. Através de seu subtítulo, “Lenda do Ceará”, o autor procurou criar uma explicação mítica para as origens de sua terra natal, tão exaltada durante a obra.

Iracema trata-se de um poema em prosa, ou romance histórico-indianista. Vê-se, durante a leitura do romance, o constante uso do lirismo, marca forte da poesia que há sob a narrativa, em si. José de Alencar era leitor de Walter Scott, escritor inglês e criador do romance histórico, do qual o cearense baseou-se para criar Iracema. Além do indianismo, do heroísmo, José de Alencar usa o fator histórico para fundamentar a obra e seu enredo, para, depois, desenvolvê-la por fatores da imaginação. Ele aproveita-se do contexto da época – as colonizações. E exalta o índio, tanto com o intuito de enfatizá-los como parte da origem da nacionalidade brasileira, como também para seguir os princípios do Romantismo – na Europa, os autores voltam-se para os cavaleiros medievais, mas como o Brasil não passou pela Idade das Trevas, voltam-se para os índios, idealizados.

Lenda do Ceará: este é o subtítulo atribuído a Iracema, pois o autor procurou criar uma explicação poética para as origens de seu estado. O nome “Ceará” é o canto da Jandaia, em tupi-guarani: Desde então os guerreiros pitiguaras, que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, se afastavam, com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio.

É uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira. Tal subtítulo indica o tom lendário, mítico, para a obra, que lembra narrativas orais e a poesia dos contos de fadas. Isso decorre da imensa necessidade que os autores românticas daquela época sentiam de criar uma origem heroica e lendária para seu país, que os tornasse únicos, diferentes da Europa, uma necessidade de mostrar o Brasil como uma nação que tem um passado, uma história. Por outro lado, tal criação de um mito para as origens de seu país está totalemnte vinculada ao projeto de consolidação da Independência, sob o Segundo Reinado, ocultando as mazelas da colônia de exploração, o massacre de nativos e a destruíção da natureza. Esse sentimento é o nacionalismo, criar um mito de uma origem lendária para uma unidade nacional, com o intuito não só de inventar um passado heroico para a nação, mas também ocultar os horríveis genocídios da época, “ter uma origem idealizada”.

Iracema é constantemente conceituada como anagrama de AMÉRICA. Ela é como uma alegoria, uma metáfora, uma representação da terra virgem, mulher-natureza de cuja entrega amorosa e auto-sacríficio surge a nova raça. Iracema é comparada a todo momento com a cor local, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.Mais rápida que a corça selvagem, [...] Sua beleza converte-se com o mundo selvagem, ela torna-se uma alegoria. É a metonímia do Brasil, que se deixa colonizar. Martim representa o europeu, o colonizador, a civilização, os valores cristãos, e Iracema o selvagem, a terra, a dominada, e o encontro do ambos marca o surgimento da identidade brasileira, o primeiro americano, Moacir.

O enredo retoma, em si, além do indianismo, ufanismo e nacionalismo, a tradição romântica das histórias de amor que terminam em tragédia, a morte de um ou dos amantes, pelo peso de uma interdição religiosa, moral, social, ou familiar.

As etnias são retratadas na obra. O índio é visto como puro, idealizado, herói mítico e lendário, símbolo e elemento fundador da identidade nacional. É o exemplo do mito do bom selvagem, de Rousseau, pois ele é corrompido pela civilização. Iracema é exemplo disso. Veja que ela era correta, seguia seus princípios, e com a chegada de Martim(o colonizador, a civilização), ela se corrompe: mente ao pai, quebra o voto sagrado, oferece sua virgindade ao estrangeiro. Ela atrai a destruição para si. Daí podemos notar que o fator histórico(domínio português) destrói Iracema.

O branco, por sua vez, representa o estrangeiro, o colonizador, também herói, e se intrega com o índio para formar a nova nacionalidade.

Foco narrativo: 3ª pessoa, narrador onisciente, romântico e subjetivo; os acontecimentos são expostos em flashback.

Espaço: valorização da cor local, do típico, exótico, e inscreve-se na intenção nacionalista de embelezar a terra natal, através, por exemplo, de metáforas.

Tempo: a marcação do tempo procura reconstruir o “pensamento selvagem”, como é vísivel no trecho, O cajueiro floresceu quatro vezes depois que Martim partiu das praias do Ceará, pois significa quatro estações, logo, quatro anos. Há também o tempo histórico, que situa-se nos primeiros anos do século XVII:

Capítulo II a XXXII: início de 1604, encontro de Iracema e Martim, e final do ano, com a morte dela.

Capítulo I: partida de Martim, Moacir e Japi do Ceará; trata-se de um deslocamente temporal, pois, que embora seja parte do final, é contado no primeiro capítulo, junto, ainda, de uma invocação à natureza, verdes mares bravios de minha terra natal, donde canta a jandaia nas frondes do carnaúba [...], pelo autor, que está distante do estado de nascença.

Capítulo XXXII(início): 1608, volta de Martim ao Ceará, início da segunda expedição colonizadora.

Capítulo XXXII(final): 1611, fundação da mairi dos cristãos, permanência de Martim no Ceará.

Personagens

Iracema: “virgem dos lábios de mel”, do tupi; idealizada, sem densidade psicológica, a natureza brasileira, heroína; o ponto de vista do narrador em relação a ela tornar-se o do branco colonizador, à medida que “europeiza” e “romantiza” ela; Iracema é uma índia tabajara que guarda o segredo de jurema, uma planta alucinógena.

Martim: baseado na figura história real(Martim Soares Moreno, primeiro colonizador do Ceará), representa o colonizador, conquistador da América, o português que leva até os índios a cultura civilizada e a fé cristã.

Obs: Iracema e Martim podem ser comparados aos personagens de Jerônimo e Rita Baiana, d’O Cortiço. Embora não sejam retratados de forma igual, dito, Iracema e Martim totalmente romantizados e heróis, e Jerônimo e Rita como personagens realistas, com defeitos, amabos apresentam o mesmo arquétipo: a nativa, a mulher brasileira, e o estrangeiro, colonizador, português.

Moacir: “filho da dor”, do tupo, fruto da miscigenação entre as raças, Iracema e Martim, os valores selvagens e civilizados, a síntese, o primeiro cearense, brasileiro, e americano.

Poti: guerreiro pitiguara, amigo de Martim.

Araquém: pai de Iracema, pajé da tribo tabajara.

Caubi: irmão de Iracema, guerreiro tabajara.

Irapuã: chefe dos tabajaras e inimigo de Martin(antagonismo).

Andira: velho guerreiro, irmão de Araquém.

Cajaúna: chefe dos potiguaras.

Maranguab: avô de Poti, “o grande sabedor da guerra”; profetiza a destruição de sua raça pela raça branca.

Japi: cão de Martim.


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