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ANÁLISE: "Os Sertões", de Euclides da Cunha

A OBRA

Os Sertões, de Euclides da Cunha, teve sua primeira edição publicada em 1902, então início do século XX. Como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, o autor presenciou uma parte da Guerra de Canudos, cinco anos antes, tema que seria tratado nessa obra pré-modernista.

CARACTERÍSTICAS

Pertencendo, ao mesmo tempo, à prosa científica e à artística, Os Sertões também pode ser compreendida com uma obra de Sociologia, Geografia e História ou crítica humana. Mas também pode ser vista como uma epopeia da vida sertaneja em sua luta diária contra a paisagem e a incompreensão das elites.

O estilo dessa obra pré-modernista é conflituoso, com impressões de sofrimento e luta. Há grande presença de figuras de linguagem e mistura de termos de erudição tecno-científica com regionalismos e às vezes até neologismos da parte do autor. Descreve não só um grupo de fanáticos religiosos e a sociedade, mas também a geografia, geologia e zoologia plana do sertão brasileiro. Com seu estilo de jornalista e épico, retrata a terra, o homem e a luta. Fala das condições geográficas e climáticas do sertão, sua formação social. Mostra-nos um Euclides cientificista, historicista e naturalista.

Euclides da Cunha, na obra, apresenta seu próprio ponto de vista no que se refere ao racismo. Para ele, havia uma “raça superior”, que não podia ter contato ou miscigenação com “raças inferiores”. É um claro exemplo do determinismo de Taine, o qual o homem era fruto da raça, meio e momento histórico. Essa doutrina considerava o mestiço brasileiro uma raça inferior, e Euclides da Cunha compartilhava dessa visão.

Os Sertões também é uma contribuição às ciências sociais. Na obra, há a separação do Brasil entre os povos litorâneos – onde havia desenvolvimento político e econômico – e interioranos – lugar de atraso econômico e com populaçãos sujeitas à fome e à miséria. Contudo, ao analisar Canudos, Euclides nega esses contrastes entre as regiões. Aponta que tanto os litorâneos quanto os interioranos se encontrariam em um estádio bárbaro de sociedade, bastasse salientar para a crueldade com que se reprimiu o movimento de Antônio Conselheiro. E, além disso, tanto uns quanto os outros eram dados ao fanatismo, fosse pela República de Floriano Peixoto, fosse pela religiosidade de Conselheiro. Vejamos, ai, nessa noção de estádios bárbaros e civilizados de sociedade, o pensamento evolucionista do autor. Ele tentou, buscando entender essas suas populações, a litorânea e as interioranas como elementos do Brasil em um todo.

A transição de valores tradicionais para modernos está na denúncia que o autor faz da realidade brasileira, até então acostumada personagens ícones do Romantismo, como Peri(O Guarani, de José de Alencar). Mostra, agora, pela primeira vez na literatura brasileira, os traços e condições reais dos sertanejos e jagunços: a “sub-raça”, o herói determista que resiste à tragédia de seu destino.

Na obra, além de retratar a luta sangrenta da Guerra de Canudos, o autor faz um estudo da terra e do homem do sertão nordestino, das sua condições de vida, da sua resistência e capacidade. A priori, o livro seria feito para relatar o lado negativo do conflito contra o governo. Todavia, o autor se posiciona a favor dos revoltosos.

Os Sertões é dividido em três partes:

A Terra, primeira parte, um tratado geográfico sobre o sertão nordestino, mostrando seus caracteres geológicos e topográficos das regiões entre Rio Grande do Norte e o sul de Minas Gerais. Discute, também, sobre a seca, das causas da mesma, dando ênfase ao papel do homem como agente da destruição (agricultura primitiva baseada nas queimadas), dos desertos, a erosão, o ciclo das secas.

A segunda parte, O Homem, completa a descrição do cenário com a narrativa das origens de Canudos. Ali Euclides da Cunha estudou a gênese do jagunço e, principalmente, a de seu líder carismático, Antônio Conselheiro. Falou de raças (índio, português, negro), e de sub-raças (que indica com o nome "mestiço"). Em O Homem o autor caracterizou o sertanejo como "Hércules-Quasímodo", usando antíteses e paradoxos (Hércules era um semi-deus latino, encarnação de força e valentia; Quasímodo era sinônimo de monstrengo, de pessoa disforme, personagem de Nossa Senhora de Paris, romance de Victor Hugo). Preparando o ambiente para os episódios de Canudos, Euclides da Cunha expôs a genealogia de Antônio Conselheiro, suas pregações e a fixação dos sertanejos no arraial de Canudos.

A terceira parte, A Luta, é a mais importante, constituída da narrativa das quatro expedições do Exército enviadas para sufocar a rebelião de Canudos, que reunia "os bandidos do sertão": jagunços (das regiões do Rio São Francisco) e cangaceiros (denominação no Norte e Nordeste). Havia cerca de 20.000 habitantes no arraial, na maioria ex-trabalhadores dos latifúndios da região.


Fonte das informações:

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/o/os_sertoes

https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Sert%C3%B5es


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