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ANÁLISE: "O primo Basílio", de Eça de Queirós

O AUTOR


José Maria de Eça de Queirós nasceu em 25 de novembro de 1845 e faleceu aos cinquenta e quatro anos, no dia 16 de agosto de 1900, em Paris. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, começou, aos poucos, a escrever obras literárias, influenciado por os escritores pré-realistas, como Antero de Quental, que se envolveram na Questão Coimbrã. Viveu uma vida turbulenta, junto de uma esposa e quatro filhos. Passou dificuldades, e também o tormento de uma doença, que lhe provocava cólicas insuportáveis, mas mesmo assim continuou a trabalhar em suas obras literárias e deveres diplomáticos.

Sua obra é divida em três partes:

PRIMEIRA FASE(romântica): o autor recebe grande influência do Romantismo, principalmente pela obra do francês Victor Hugo.

Obras: Prosas Bárbaras, O mistério da estrada de Sintra em parceria com Ramalho Ortega.

SEGUNDA FASE(realista/naturalista): já há traços marcantes do Realismo.

Obras: O crime do Padre Amaro, O primo Basílio, Os Maias.

TERCEIRA FASE(realista-fantástico): suas obras têm otimismo e esperança, sem aquele pessimismo de análises sociais.



O PRIMO BASÍLIO


Sinopse: Jorge e Luísa formam um jovem casal pertencente à burguesia de Lisboa. Convivem com um círculo de amizades formado, entre outros, pelo Conselheiro Acácio, homem apegado a convenções sociais; Dona Felicidade, que nutre uma ardente paixão por ele; e Sebastião, o melhor amigo de Jorge. Jorge parte para uma viagem de trabalho. Durante sua ausência, Luísa recebe a visita de um antigo namorado de juventude, seu primo Basílio, residente em Paris. Admirado com a beleza da moça, Basílio envolve Luísa em um jogo de sedução, que faz com que ela se imagine vivendo uma das aventuras amorosas de suas leituras românticas. Eles se tornam amantes, passando a trocar bilhetes e cartas de amor. Luísa encontra estímulo na amiga Leopoldina, mulher casada, colecionadora de casos extraconjugais. Toda a movimentação da casa é observada pela governanta Juliana, sempre às voltas com planos de enriquecimento rápido. Para escapar das desconfianças dos vizinhos, o casal de amantes passa a se encontrar em um quarto alugado nos subúrbios de Lisboa. A despeito da decrepitude decadente do lugar, chamam-no de Paraíso. Ali, vivem tórridas cenas de amor. Com o tempo, Luísa percebe um esfriamento na paixão de Basílio, que passa a lhe tratar com certo desprezo. Juliana se apodera de algumas cartas trocadas entre os amantes e passa a chantagear a patroa. Luísa expõe um plano de fuga a Basílio, mas este se recusa a segui-lo e retorna a Paris. Jorge chega da viagem e Luísa continua a sofrer o assédio de Juliana, que exige uma grande quantia em dinheiro para devolver-lhe as cartas. Para conter seus ímpetos, Luísa se vê obrigada a conceder à empregada uma série de privilégios: presenteia-lhe com seus vestidos, deixa seu quarto mais confortável e chega até mesmo a substituí-la em alguns serviços domésticos, sempre às escondidas do marido. Jorge se apercebe do que acredita ser desprezo de Juliana pelo trabalho e resolve demiti-la. Juliana exige o dinheiro da chantagem e Luísa apela então para Sebastião. Ele escuta toda a história do adultério e fica horrorizado, mas resolve ajudar a amiga. Vai até a casa de Jorge em um momento em que Juliana está só e, com ameaças de prisão, obtém as cartas. Vendo escapar-lhe o sonho de enriquecimento, Juliana tem uma síncope e morre. Sebastião entrega as cartas a Luísa. Luísa adoece. Jorge apanha, em meio à correspondência, uma carta de Basílio. Imaginando que a causa da doença da esposa seja algum problema familiar de cujo conhecimento ela o poupa, Jorge abre a carta. Nela, Basílio relembra os bons momentos passados no Paraíso. Quando a esposa melhora, Jorge lhe mostra a carta de Basílio. Luísa sofre um choque e, alguns dias depois, morre.


ANÁLISE


Escola Literária: Realismo-naturalismo português.

Publicado em 1878, O primo Basílio é uma análise e crítica da família lisboeta no século XIX. O romance inova uma criação literária, criticando de uma forma demolidora e sarcástica os costumes da pequena burguesia na capital de Portugal, atacando uma das instituições mais sólidas: o casamento.

A obra tem sua importância por ter sido publicada durante uma época de consolidação da escola realista-naturalista português, sendo uma súmula da maioria das características desse estilo: a crítica social, a sexualidade, personagens defeituosos, com suas imperfeições e mazelas no caráter, narrativa irônica, e temas que mostram a hipocrisia humana. Além disso, a obra também tem sua relevância por apresentar uma inovação nos romances realistas: Eça de Queirós, em meio a sociedade hipócrita que critica, coloca uma personagem romântica, Luísa, mulher de visão romântica da vida.

A obra trata também de outro tema: o adultério. Luísa, casada com Jorge, é vítima do excesso de fantasias românticas, vindos dos romances "água com açúcar" que ela lê, distanciando-a da realidade e impedindo-a de discernir valores morais, assim sendo levada a praticar o adultério. Ao mostrar isso, Eça de Queirós faz uma espécie de ataque ao Romantismo. Afinal, — para relembrar um pouco — o Realismo e o Naturalismo são dois movimentos que se opõem frontalmente ao Romantismo, suas idealizações, o nacionalismo e os heróis.

Eça, em sua crítica ao casamento, mostra a falsidade, o cinismo e as hipocrisias dessa instituição. Vemos que a obra mostra a decadência moral gerado pela sexualidade exacerbada, a futilidade e a ociosidade da sociedade lisboeta, o culto às aparências e o convencionalismo social. Há, na estética, um abuso de descrições e do uso de adjetivos. E a ironia também é uma constante.


(Em 1998, a Rede Globo produziu uma minissérie baseada em O primo Basílio. Na foto, à esquerda, Giulia Gam como "Luísa", e, à direita, Marília Pêra como "Juliana").


ESTRUTURA DA OBRA


Foco Narrativo: o romance é narrado em terceira pessoa. O narrador é onisciente e descreve detalhadamente o ambiente, os objetos ou o vestuário dos personagens. Esse apego à minúcia é característica queirosiana.

Tempo: a narrativa é cronológica e linear.

Espaço: Lisboa.

Personagens: vale ressaltar que os personagens são superficiais e apenas representam tipos sociais, menos Juliana.

Luísa: casada com Jorge, Luísa é uma mulher ociosa, que desde a adolescência lia romances do Romantismo; é sonhadora, deixa conduzir-se ao adultério, mais tocada pela curiosidade do que por qualquer outro sentimento. Representa na obra a futilidade, a ociosidade, a mulher romântica, sonhadora, ingênua e inconsequente.

Jorge: marido de Luísa, é um indivíduo equilibrado; seu comportamento muda, pelo menos em relação à sua visão do adultério, já que no início acreditava que devesse ser punido com a morte da adúltera, mas no final perdoa a esposa.

Basílio: dândi, conquistador, irresponsável, "bon vivant", cínico e arrogante. Procura imitar um estilo de vida aristocrático, e tinha uma preocupação de estar sempre bem-vestido. Era também um prodígio.

Juliana: empregada na casa de Jorge e Luísa, trabalhou antes para uma tia do patrão, mas não obteve nenhuma citação na herança. É a personagem mais completa e acabada da obra, e tem sido vista como símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia tudo e a todos, principalmente seus patrões, não detendo então qualquer sentimento de fundo de moral. Ela tem seu ideal, que é um desejo de resolver a própria condição econômica. Está sempre atenta para aproveitar-se de qualquer erro de Luísa para arrancar desta, através de chantagens, algum benefício econômico, o que aliás, acaba ocorrendo. Ela é a única capaz de mudanças de atitude de acordo com as circunstâncias, já que as demais personagens representam apenas tipos sociais.

Sebastião: única personagem realmente boa do romance. Sua sinceridade, honestidade e modéstia destoam das demais personagens, fazendo-o de uma exceção geral na obra. Permanece em toda a obra fiel a Jorge e ao mesmo tempo ajuda Luísa. E, por fim, não representa nenhuma crítica à sociedade portuguesa.

Julião: dizia-se socialista, mas tudo o que pretendia não era reformar a sociedade, e sim arranjar um emprego como funcionário público. Parente distante de Jorge e amigo íntimo da casa, Julião Zuzarte, assim como Juliana, representa o descontentamento e o tédio com a profissão. Estudava desesperadamente medicina, na esperança de conseguir uma clientela rica. Andando sempre sujo e desarrumado, Julião era invejoso e azedo.

Conselheiro Acácio: representa falsidade e a hipocrisia social, fazendo-se passar por alguém que não é. Sua falsa moralidade é apenas uma couraça social, já que tem relações com a própria empregada. Tem uma linguagem formal e superficial, arrogando-se sempre uma cultura e uma influência social que não tem.

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